07 fevereiro 2011

A Masmorra De Krohm [Final]

Sabia que tentar aproximar-se do adversário seria tolice, visto que o mesmo poderia atacá-lo de diversos meios. Por isso, ele percebeu que deveria entrar e sair de seu raio de ação o mais rápido possível. Quando viu o monstro esmurrar o chão com a cauda e o impacto causado pelo golpe, o plano articulou-se em sua mente. Era arriscado, mas Kael confiava em sua cota metálica, que tantas vezes o salvara durante uma batalha. Ele ergueu-se e empunhou a espada em chamas, pensando em como atacar seu adversário. Retomar sua arma era uma coisa. Agora, causar danos ao monstro seria uma nova questão totalmente diferente. Sabia que o monstro era vulnerável às chamas mágicas de sua arma. Mas ainda assim, ele parecia resistente o bastante para prolongar a batalha por um bom tempo. E se isso era uma preocupação antes, o fato de poder ser abatido por um único sopro de fogo, essa preocupação permanecia. Sua cota metálica era excelente contra danos físicos, mas contra as labaredas infernais do Krohm, nada poderia fazer.

O monstro, irado pelo ferimento em sua pata, avançou contra o cavaleiro, pela primeira vez no combate. Era lento, devido ao seu peso, mas ainda assim, tinha um grande raio de ação. Seus braços, mais longos que os de um humano normal, agitavam as garras a frente do corpo, enquanto sua cauda chicoteava a área às suas costas. E a bocarra continuava escancarada, preparando-se para lançar nova onda de labaredas mortais. Kael avaliou sua situação: o monstro era praticamente inatingível em combate corpo a corpo, e estaria preparado para uma nova investida suicida como a que o cavaleiro empregara a pouco. O guerreiro não dispunha de nenhum ataque à distância, nem havia muito espaço para que conseguisse se manter fora do alcance da fera por muito tempo. Não havia muita saída, ele precisava encontrar uma brecha entre os ataques do monstro e finalizar a luta o quanto antes. Decidiu investir também. Correu até o demônio e, ao se aproximar, aparou o primeiro de seus ataques com o escudo. A pancada fez reverberar o escudo, juntamente com os ossos de seu braço e, finalmente o corpo todo. Os tremores enfraqueceram seus joelhos, fazendo o cair sobre um deles. Porém, não sofrera nenhum dano sério. Mas a outra mão do monstro vinha agora em direção ao seu rosto. Balanceando o corpo, agitou a espada no ar, golpeando o punho da besta, tentando decepar sua mão. Mas o couro do monstro era mais resistente do que parecia, e o guerreiro não conseguiu trespassar-lhe o membro, ficando sua espada encravada no osso do braço da fera. O fogo na lâmina queimou a carne da criatura, levando-a a um frenesi de dor e fúria. Urrando, ela desceu a cabeçorra contra o corpo do guerreiro. Ele sabia que se fosse alvejado por um jato de chamas, neste instante, estaria liquidado, mas o monstro, tomado pela fúria, esqueceu-se desta possibilidade e investiu tentando morder o adversário. Àquela distância, Kael nada pôde fazer, e as presas do monstro ferraram-se em seu ombro direito. Mesmo sob a proteção da armadura mágica, a dor do aperto fez o guerreiro tontear. O monstro, tentava rasgar-lhe a cota metálica, mastigando e pressionando com a mandíbula, mas sem sucesso.
Kael viu-se encurralado. Com a espada presa ao corpo do monstro e as presas do mesmo ferradas em seu ombro, ele não tinha escapatória. Precisava agir rápido para livrar-se daquela situação. Com o braço esquerdo, empurrou a pata do monstro que aparara num primeiro momento, livrando assim o escudo. Então, bateu com o escudo no peito do monstro, tentando enfraquecer seu aperto. A fera ignorou completamente o ataque, parecendo não dar importância à pancada. O guerreiro tornou a tentar, mas nada parecia ter efeito. Então, ele tentou soltar a espada, mas ela ainda estava presa firmemente ao punho do seu adversário. Sem mais alternativas, ele decidiu partir para uma tática suja, porém eficiente. Soltou o cabo da espada, que imediatamente perdeu suas chamas e, erguendo a mão, atacou os olhos do monstro.

Com uma estocada perfeita, o guerreiro acertou em cheio o olho direito do monstro, fazendo-o urrar de dor novamente. Enquanto o monstro berrava, afrouxou a mandíbula no ombro do cavaleiro, permitindo assim que o rapaz empurrasse-o para longe, com o escudo. Mas Kael não abandonou a carga. Conseguira uma importante vantagem, e não deixaria-a passar sem aproveitá-la ao máximo. Enquanto o monstro cambaleava para trás, o cavaleiro correu até ele, agarrou o cabo da espada e, com o escudo, enganchou a ponta da lâmina. Então, apoiando a bota no corpo do animal, ele puxou a espada com todas as forças. O monstro tornou a berrar de dor, quando a lâmina incandescente atravessou sua carne e decepou seu punho direito. Kael caiu para trás, tentando livrar-se das tiras de couro do escudo, que derretia rapidamente sob o efeito das chamas mágicas da Fênix. Livrando-se da proteção desgastada, o cavaleiro ergueu-se. O monstro, ainda se retorcia de agonia, o pulso ferido vertendo sangue verde. Ainda havia a possibilidade de um ataque, e Kael resolveu fazê-lo. Correu novamente até o monstro, pronto para perfurá-lo com sua espada. Mas desta vez o demônio estava preparado, contra-atacando com sua cauda. O cavaleiro precisou fazer uma complicada manobra para desviar-se do ataque, mas a oportunidade não foi perdida. Enquanto rolou para a esquerda, a cauda do monstro esticou-se ao seu lado, e o guerreiro, brandindo sua espada, amputou-a também. Enquanto o toco decepado convulsionava-se e o sangue viscoso espirrava por todos os lados da caverna, o monstro tornou a lançar mão de seu bafo de fogo. Porém, tão aturdido estava, a criatura disparou seu bafo quente para o alto, acertando o teto da caverna. Enquanto a pedra do teto derretia e pingava novamente no chão, Kael afastava-se da besta enfurecida, esquivando-se da pedra derretida que vertia para o chão. Com a torrente de flamas que queimava a pedra, o cavaleiro pode vislumbrar todo o interior da caverna. Ao longe, do lado de onde o monstro viera, era possível visualizar uma escadaria. Provavelmente ele poderia retornar ao calabouço por lá. Mas, antes de qualquer coisa, precisava terminar sua missão.

A pedra derretida que escorria do teto respingava no monstro, queimando sua pele escamada. A besta, contudo, não parecia se importar. Manteve as chamas por mais alguns instantes, para então cessá-las. O teto da caverna começou a ruir, mas o monstro não parecia inclinado a sair de onde estava. Kael percebeu que não teria necessidade de finalizar a luta, pois o monstro seria soterrado pelas pedras que viriam abaixo. Então, ele correu até onde ficara a mão decepada do monstro e agarrou-a. Com a espada, arrancou uma das garras da fera, jogando então a pata inutilizada para longe. Quando a primeira rocha caiu, o guerreiro esquivou-se em direção à escada. No meio da ruína, o Krohm rugiu, furioso, fitando com seu olho bom o cavaleiro. Então, outro fragmento do teto da caverna se desprendeu, este gigantesco, caindo entre o cavaleiro e a fera, selando a criatura no interior da terra. Kael correu escada acima, esquivando-se de uma ou outra rocha que caía em seu caminho. Alcançou a masmorra e, ouvindo os barulhos de trituração lá debaixo, percebeu que a caverna desmoronara por completo. Usou as chamas da espada para iluminar a escada e pôde ver que seus primeiros degraus estavam agora cobertos de pedras. O caminho para a caverna do Krohm estava selado. O monstro, derrotado.

Sabendo que sua missão estava encerrada, o cavaleiro saiu da masmorra, sem maiores dificuldades. Quando finalmente alcançou a superfície, percebeu que era noite. As Luas de Elehndor iluminavam o firmamento, uma de cada lado do céu. Respirando o ar puro da floresta, Kael sorriu, felicitando-se por ter terminado a missão. Sem mais, repôs a espada em sua bainha e partiu em direção à cidade, pronto para cobrar a recompensa por seus serviços.

Nas entranhas da terra, em meio a inúmeras rochas derretidas, um ponto de luz iluminava o completo breu. Uma criatura segurava, entre as garras de sua única mão, um escudo derretido e deformado, enquanto fungava sobre as correias de couro que o antigo proprietário do aparato usava para fixá-lo em seu braço. Guardando o odor de seu rival, o Krohm grunhiu, enquanto adormecia, esperando recuperar-se. O que as lendas antigas mais relatavam acerca desta raça de demônios, era o quão vingativos eles poderiam ser...


2 comentários:

  1. \õ\
    Agora eu li direitinho e vi que era a cauda mesmo...
    Cabeça doida da Chiih achou que era a outra garra... @_@
    Mas nem quero ver a vingança do Krohm... x.x'(Quero sim!)
    #medo

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir

É sério?