21 janeiro 2011

Mas, porém, todavia, contudo. E se...

- Você devia falar. - Sentenciou a Voz da Consciência.

- Mas... - A jovem murmurou.

- "Mas" nada. Você devia falar. Sabe que é o certo.

- Mas... e se ele entender errado? - A garota brincava com os dedos, tímida.

- Não há o que entender errado. O que você vai dizer é simples e direto. Vá logo até ele e diga o que deve dizer. - A Voz da Consciência foi firme.

- Mas... e se ele ficar bravo? - A garota hesitava.

- Bravo? Por você ser sincera? Não há porquê isso acontecer.

- Claro que há! Quero dizer... e se ele for tímido..? - Agora a garota enrolava o cabelo.

- Bom, talvez ele fique com um pouco de vergonha, mas isso é algo inevitável. Afinal, essa é uma situação... bem... complexa.

- Então... - A garota tentava de todas as formas convencer-se de que o correto seria guardar para si o que desejava falar. - Se eu vou deixá-lo envergonhado, não há por que falar. Ele não precisa ficar sabendo.

- Lógico que precisa! - A Voz da Consciência, contudo, era irredutível. - Você não pode simplesmente deixar essa situação passar. Você precisa tomar uma atitude. Caso contrário, você irá se arrepender para sempre. Creia-me. Eu mesma é que te lembrarei todos os dias do erro que foi não ter falado.

-Mas... depois de falar isso... ele vai perceber que eu havia notado desde o início.... e que eu vinha pensando nisso esse tempo todo... - A voz da garota falhava, pois ela sabia que seria convencida pela Consciência. Mas ainda assim, continuou tentando. - E se ele não quiser olhar pra minha cara depois de eu falar? E se ele me achar uma maluca por não ter falado nada antes?

- Isso pode acontecer. - A Voz esperou. Quando a garota abriu a boca para argumentar, porém, ela retomou seu raciocínio. - Mas pode não acontecer. Ele pode entender que você teve vergonha de dizer antes. Conhece o Gato de Schrödinger? Ele pode estar vivo ou morto. Só abrindo a caixa pra saber...

- Sim, mas... e se essa for uma "Caixa de Pandora"? - A Voz da Consciência riu. Mas riu tanto, mas tanto, que fez a própria garota rir. E ela riu alto. Tão alto que chamou a atenção de todos no trem. De todos, incluindo o rapaz sobre quem ela tinha tão animosa discussão mental. O jovem encarou a garota que, ela levou alguns instantes para perceber, encarava-o de volta e sorria timidamente.
Ela sabia que aquele sorriso tímido era resultado de sua confusão interna, da soma de sua Consciência, que gargalhava freneticamente, com o seu eu consciente, que queria chorar de vergonha. Mas o rapaz não sabia. Para ele, aquilo era só um sorriso tímido, endereçado a ele por uma garota tímida, que não parava de fitá-lo.

- Ah droga, ele me notou. Obrigada pelo rompante, Consciência. - A garota resmungou, enquanto a Consciência limpava as lágrimas hipotéticas de seus olhos imaginários. "Pandora", ela murmurava e ria. - E agora? Se ele vier aqui, o que eu faço?

- Você fala o que deve, oras. - A Voz respirou fundo, para se acalmar. Só que respirou pela boca da garota, o que fez com que ela, para todos os efeitos, suspirasse. "Todos os efeitos" incluía o jovem. Ele flagrou o suspiro e, então, tomou coragem. E foi até a garota.

- Ah Deus! - A garota gritou subconscientemente. A Consciência pôs as mãos nos ouvidos hipotéticos. - E agora? Eu tenho que falar. Mas... e se ele não quiser?

- Se ele não quiser, ele é pirado. Mas não adianta mais hesitar. Ele chegou. Fale!

- Ahn... - Disse a garota.

- Oi. - Disse o rapaz, sorridente.

- Fala logo! - Gritou a Consciência.

- Ehrm... - Falou... ou melhor, "não falou" a garota.

- Tudo bem? - Continuou o rapaz.

- Anda logo. Fala! Medrosa! - A Consciência esperniou.

- AAAh! - A garota surtou.

- Eu vi você me encarando e... - O rapaz tentou.

- Agora! - Berrou a Consciência, o mais alto subconscientemente que pôde.

- Tá bom! - Berrou de volta a garota. Só que ela berrou em voz alta. Ela, surtada, nem percebeu o silêncio no interior do trem, devido ao seu rompante, e gritou de novo, para o rapaz. - Eu falo! O zíper da sua calça está aberto! Está aberto o tempo todo! Desde que eu entrei. É isso! Está aberto!

Silêncio sepulcral no vagão. O garoto, semi congelado de susto, baixou o rosto e viu que era verdade. Fechou o zíper da calça, deu meia volta e foi para o canto, entrar em combustão expontânea.
A garota nem se moveu. Entrou em combustão espontânea ali mesmo. A Consciência murmurou um "eu te avisei" e foi para o seu canto, ainda rindo.

Morais da história:

1 -> Saia da sombra do "E se..." e fale logo! Antes que você surte.
2 -> Se alguém ficar te encarando, certifique-se que não é por algum motivo embaraçoso, antes de começar a pensar que você é o tal.
3 -> Não perca tempo discutindo com a sua Consciência. No fim das contas, ela sempre tem razão.
4 -> Confira se seu zíper está realmente fechado.

Boa viagem.

3 comentários:

É sério?